quinta-feira, 3 de julho de 2014

Galo. Sexta parte

O sol não nasce, fica aquecido no coração, sempre, e quando ele resurge no horizonte, um novo sorriso é o que nasce, como as pétalas das flores são embaralhadas em matizes enraizadas na intuição de que a esfera celeste é quem comanda as flores. 
O galo canta firme, com sonoridades arco-írisadas do quintal, do riacho pobre, mas com afinação para o mundo todo!


O agora homem formado apeou do seu cavalo diante do pai de Maria. Pegou em suas mãos e disse: “Senhor, tenho carta branca para agir e a partir de agora você ficará responsável apenas com a metade do trabalho que fazia, e ganhará o mesmo, enquanto outro jovem fará a sua parte e ganhará uma recompensa”. Astuto. Não se conquista pela força os sentimentos dos elevados, nem se senta na cozinha dos abençoados com as mãos sujas. Ives deslumbrava à sua frente os planos elaborados na madrugada. As pedrinhas brancas disseram a ele o que deveria fazer primeiro: cuidar do seu coração! E como reagiria Maria, ao saber que finalmente seu pai poderia descansar um pouco? Sua saúde já não era das melhores. O pai de Maria deixou escapar de seus olhos um brilho dourado. O sol resvalava em sua pele, doando ao fundo da íris as cores gratas: autenticas.
O homem formado vestia agora uma roupa robusta, próprias para cavalgar no cavalo alazão, que o patrão lhe emprestara enquanto fosse seu braço direito na fazenda. Quem via, mal podia acreditar que se tratava do mesmo que chamavam de pirralho, apenas por pertencer à família mais pobre dos arredores. Ao longe, suspiravam profundamente os que seriam submetidos a ordens de uma figura tão jovem.
Quando o Senhor chegou à casa naquela ainda manhã frienta, Maria teve um susto.
-Papa, mas esta hora em casa, o que houve?

De olhos fitos na janela a menina Maria realizava um sonho internamente. Seu pai falava, e falava do ocorrido. Sentia que levariam uma vida mais proveitosa. O pai poderia ficar mais tempo junto a esposa, que também trabalhava demais em casa. Casa essa, embora modesta, tinha todos os aparatos de uma casa Senhorial. Até um rádio de madeira de lei, embelezava a sala simpática e cheirosa. A Senhora da casa, guerreira e trabalhadora, não deixava nada, nem ninguém adentrar ao lar sem antes terem lavados os pés e as mãos devidamente. O asseio é a imagem da beleza, e esta acontece com as mulheres de encantos infinitos, que além de adornarem o corpo com simples e elegantes brincos e colares, revelam na casa as cores que carregam no coração. Uma florzinha aqui, acolá; um tapete creme tecido à mão, carinhosa. A mãe de Maria, a Senhora de Fátima, como a chamavam, acaba de chegar da mercearia, quando aturdida principiava em interpelar as razões do marido estar em casa tão cedo. A rainha também promove e beneficia o lar todo, e o zangão não poderia deixar de trabalhar. Após saber dos pormenores o mandou para as hortas. Nos tempo livres cuidará dos porcos. Venderemos alguns com o tempo. Teremos mais renda.

8 comentários:

  1. Cheguei muito atrasada para os teus " contos ", mas li-os todos. Vidas difíceis dos miseráveis que trabalham de sol a sol por uns míseros trocos para benefício exclusivo de um senhor que não se compadece. Cheguei a temer pela sorte do menino, mas parece que ele foi astuto o suficiente para saber como lidar com os mais poderosos. Cá fico à espera do resto e tenho a certeza que o final será. como sempre esperamos, o bem vencendo o mal. Parabéns, Ives e muito obrigada por tão belos momentos. Um beijinho e até breve
    Emília.

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  2. Que diferença de tratamento agora que o memino crescera, o pirralho das roupas pobres se apresentava com roupas"dignas"... Lindo e estou adorando! abração,chica

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  3. Mede-se pelas aparências... Infelizmente! Belas as suas narrativas!
    Abraços.

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  4. Poxa, quantos Galos hehe e não deu pra eu acompanhar nenhum. Tenho q copiar pra ler com calma dps!! Bom fim de semana e abrçs

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  5. Aliando-se a razão ao sentimento, o que será o que vai prevalecer?
    Aguardo
    Um abraço

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  6. É um momento de transformação que possibilita vários destinos aos personagens. Aguardamos a imaginação do autor. Abraço.

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  7. Bela narrativa!
    Bom fim de semana.
    Um abraço.

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  8. Muito bom e reflexivo o conto. Com certeza, a vida é cheia de grandes possibilidades!Podemos transformá-la na medida que cremos.

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