terça-feira, 1 de julho de 2014

Galo. Quinta parte

O dono da fazenda do alto de sua mansarda observava o sol espelhando o verde das folhas dos  cafezais.  Sentado na cadeira de balanço pensava, constantemente, em maneiras de tirar o máximo que podia do sangue dos serviçais. Entre as reflexões fumegantes, e o delírio dos breves cochilos depois do almoço, despertou-lhe a ideia de colocar alguém mais inteligente como feitor, alguém que não se deixasse levar pelas inocentes emoções. Precisava garantir o café da manhã farto, com as delicias reais que proporcionava o campo, e nada impediria a sua ambição de alçar voos cada vez mais altos. Levantou-se e foi a cavalo espreitar de longe algum escravo mais ousado, que pudesse coloca-lo sob-rédeas curtas, como fazia com seu cavalo. Apeou e caminhou entre as moitas até se colocar na posição que não seria visto por ninguém, já que sabia exatamente a altura da labuta em suas terras. Lá longe, mal podia se conter de contentamento ao avistar o menino que fora preso por desafiar o seu feitor.  Era um menino, porém a velocidade a capacidade de trabalho transformavam-no num homem perfeito. "basta algumas represálias e quem sabe ele fica "ajuizado".Queria dispensar o atual feitor, não só pela sua incapacidade como também pela fama de aliciador das meninas mais desamparadas da redondeza. Poderia trazer-lhe graves consequências. Não podai arriscar. Perder, seja o que for, não faz parte do jogador que aprendeu no seio da família todas as tramoias morais, que mesmo que fossem sujas, não o impediria de cavar cada vez mais profundo os pensamentos humanos, para que de lá pudesse trazer de volta as ferramentas mais recônditas, aquelas que são quase imperceptíveis aos olhos mais singelos. E subitamente saiu andando entre seus “funcionários”. Aproximou-se do menino e o interpelou: “Perdoe-me, mas ainda não sei o seu nome”. Aturdido o menino balbuciou algo antes de se interar de que não podia responder claramente, mais pela sua boca seca, que pela surpresa de ver o próprio patrão diante de si.
-Ives.
Respondeu firme de olhos penetrantes.
O patrão, nesses primeiros momentos de contacto com o menino, já decorrera todas as possibilidades. Se o menino seria caro, o que faria para mantê-lo preso aos seus caprichos, como faria para alicia-lo em seus desejos mais profundos. Claro que um jovem menino, cheio de outras garotas ao redor, não hesitaria em ver-se laureado por uma indumentária mais luxuosa. E foi com um olha afetivo que respondia:
-Gostaria de conversar a sós comigo? Vamos dar uma breve caminhada enquanto lhe falo.
E saíram caminhando lentamente. Claro que todos os outros serviçais, espantados, num alarido surdo, cochichavam sobre a ação do Senhor da fazenda.
-Ives, tenho pensado em trocar o meu feitor, e não tenho ninguém mais em vista do que você que é corajoso e forte como um touro. Elevarei o seu salário, poderá comprar roupas, tudo o que quiser. Os olhos do menino brilharam, mesmo porque não havia saída, o mundo dos que vivem numa bolha não podem enxergar além da parede espelhada!



4 comentários:

  1. Oi, Ives...que situação difícil... quando é única a porta da saída para um menino ...que o Criador se apiade de sua criatura!
    Um abraço

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  2. Muito bem contado.
    Quando não há saída a vida pode tornar-se difícil. Você nos dirá o que acontece a seguir...
    Abraço.

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