Amigo

Meu amigo Ary raramente deixa seus olhos brilharem, ao menos nos lugares onde a luz pode ser dividida! E senti na voz, à distância, o desejo atroz que se tem de um afeto amigo quando a solidão corta sangrando. Ao abrir a porta da casa da minha namorada, (ex, agora)ela me deu um ultimato, “se sair, adeus”. Era um sábado frio, de peles comidas pelo tempo. “Adeus”. Posso sofrer pela saudade, mas nunca por abandonar um amigo no silêncio noturno! É que para se entender alguém é preciso passos poderosos, divinos. Ela não faria isso por mim, mas eu faço isso por um amigo. Quando lá cheguei seu sorriso me enlaçou numa energia divina. Não falamos sobre os sofrimentos. É preciso passar um traço definitivo nas dores, não eleva-las! Assim os anjos são espumas de plumas leves. Gostamos muito de literatura. “Vamos falar do Poe, das flores, construções milenares, espaço, lua, cometa, eclipse, poesia...”! De tudo, menos das outras pessoas ou do sofrimento. Eis um passo ao crescimento, claro! Desfila-se tão bem com os carros em casas de madeira de lei, mas quase raro os conteúdos são sinônimos de riqueza, e eu não poderia estar num lugar mais rico: dentro do coração de um amigo! Abraços Ives Vietro