Peles de Ouro Azuladas

Os traços se misturam no amor, como se eu falasse contigo, amor! Escute só, amor...
Há “pessoas” que chegaram ao ápice do egoísmo, e só uma luz profunda pode alcança-las.
Azul.
Eu estava sentado com a plateia, assistindo na penumbra os acontecimentos lapidados pelos querubins.
A Sr das Peles de Ouro, que mora na mesma terra da Terra, falava a respeito da festa de sua filha que aconteceria em breve.
-A festa será num dos lugares mais requisitados, minha filha!
Festa suntuosa, adornada por galanteios falseados pelas mãos que pedem de volta!
E a cada degrau angariado, de lá do alto mal podia ver o abismo que se abria a sua frente.
Escolhas.
E na vila de pobres mortais um dos amigos da família ficava sabendo por terceiros que não seria convidado novamente.
-É muito caro. Pago uma fortuna e só posso convidar os mais afins!
Mas o filhinho dos pobres mortais nascera um dia antes da aniversariante envolta de brinquedos. E no mesmo hospital as mães choraram juntas, mas se distanciaram pelas escolhas...
A luz toca como se fosse uma onda suavemente fincada nas paredes internas, provoca as lágrimas das faces sem expressões.
A Srta das Peles de Ouro era sempre convidada pelos pobres mortais. Ao contrário dos “deuses” são os mais simples quem cortam as faces expostas no espelho! Ela pegava o convite feito de papel barato, e dizia o que todos dizem quando tomados por sarcasmo: coitados!
Chegado os dias das festas, que se realizariam uma após a outra, a da Srta das Peles de Ouro primeiro, depois, no próximo sábado seria do menino “pobre”
Chegado o “grande” dia, a filha envolta de brinquedos chorava por falta de amiguinhos. Roda de luzes, pipoca, piscina e a solidão encaixando os tempos nos lugares!
Só os familiares aguentam gente assim. A Srta das Peles de Ouro chorou de raiva por quase ninguém aparecer. Chorou de raiva por não saber, ainda, sobre a luz, azul, que se aproximava!
Na semana da frente. A Srta das Peles de Ouro resolveu aceitar o convite do menino pobre.
Busca-se a luz, anjo?
Quando ela lá chegou ficou espantada com o numero de crianças, a alegria era contagiante, deslumbrante adornada de azul, azul que reverberava o seu semblante de ouro. Quando ela comeu um pedaço do bolo, azul, não pode deixar de falar “que delícia de bolo”. Ao ver a sua filha rindo no meio das outras crianças, lançou um sorriso azul até nós. Eu, do camarote, via os anjos aplaudirem as lágrimas que desciam dos olhos da emocionada Srta das Peles de Ouro, azuladas.

ives vietro