quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Aprendiz

A terapeuta não sabia muito da vida. Que ironia. Tudo bem, não são deuses, mas espera-se dos mais evoluídos um postura que nem existe! Fala verdade. Olha o jargão. Mas estava com tanta saudade do amigo. Daquelas que corta mesmo. O menino parou em frente ao portão azul enferrujado, desceu do carro velho e deu duas batidas tímidas. “Oi, o Ari está”? A moça de ar petulante perfurou os olhos do menino com um não venenoso. “Venha outro dia”. Diferente do seu preceptor, mestre como chamava, a menina não abriu os braços em sentido à sala de estar. Há certa leveza ao convidar alguém para entrar. O menino brilhou os olhos, respondeu com silêncio. Desceu e subiu as ruas em busca daquele que desvendava sempre os mistérios da fortaleza dos corações. A experiência traz à tona mais das luzes que não são expostas facilmente nos divãs, querida. Ahh lá estava ele. O menino estacionou ao lado do bar. Os dois “alcoólatras” agora perfilavam os passos antecedentes. Falado do acorrido o mestre apenas elevou aos olhos o mesmo brilho do menino. É que os laços de amizade não encerram em si o “venha outro dia”. A saudade urde pelo agora, agora! Como no caso dos poetas, esperamos a beleza estampada em seus olhos, assim o entendimento supremo estaria nos olhos da menina má! Compraram mais algumas cervejas e o mestre convidou o menino sábio a ir até sua casa velha. Paredes sujas, carros amontoados, vaso sanitário imundo. Tudo isso? Sim. O velho estendeu os braços e sorriu para a filha. “Esse é meu amigo”. “Estou só de passagem, vim só ver se estava tudo bem”. Passou pelos dois sem um oi, sem laço de afetividade, afetividade Sra Terapeuta? Antes de sair do cristalino a lágrima desenhou em seu semblante a dor por não ter sido melhor! Melhor? Que merda é essa? Lá dentro, depois que as lágrimas voltaram para a lagoa da salvação, o Senhor mostrou um soneto que tinha feito na noite passada. O menino se comoveu e trocou algumas lágrimas antes de dizer silenciosamente que o amara. Depois o senhor não se conteve e deixou a lágrima se romper novamente. “Queria mostrar isso para ela”! Ahb aprendizes, aprendizes, soltem suas codornizes no espaço silencioso do coração que requer apenas um afago! Abraços Ives vietro

7 comentários:

  1. Gostei quando o menino se comoveu com o soneto...
    Um belo texto, amigo.
    Beijo.

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  2. Amigo não diz para vir outro dia...amigo está sempre à disposição do outro amigo nem que seja só para dizer " Vim só ver se estava tudo bem ", telefonei só para saber como estás. Pena que não arranjemos tempo para estas pequenas coisas. Costumo dizer que quando um amigo se vai, arranja-se tempo para ir ao velório e ao funeral, mesmo que se perca o dia de trabalho. Mas esse amigo esteve doente e nós nem soubemos ou se soubemos, nem um telefonema lhe fizemos. Beijinhos, Ives e obrigada pela chamada de atenção que é este texto. Fica bem
    Emília

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  3. Há momentos que não podemos adiar sob pena de marcar quem nos procurou e não recebeu o afeto de que careciam...
    Belíssimo texto, Ives.
    Bjo :)

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  4. Comovente encontro de amigos entre os quais se compartilham seus sonhos e suas dores...é bom ter amigos assim...valem a vida.
    Um abraço.

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  5. Lindo Ives, enquanto sonetos despertarem lágrimas, bons sentimentos habitam os corações dos homens. Que venham inúmeros afagos libertadores. Um abraço!

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  6. Putz!! Como é delicioso ler um texto bem feito...

    Abraços

    Alexandre
    http://nossoconfessionariopublico.blogspot.com.br/

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