quarta-feira, 9 de julho de 2014

oitava parte

O eco disse: “volta”.
Desprovido da pele, as sensações são azuis ou multicoloridas, e o Guerreiro, que divisou as cores celestes, antes, quando a vontade em si era a de permanecer no azul, sentia que a sua frente, cerúleo e quente, estava a simples existência além da Terra. Não há vagar. Os passos são conscientes e as falas pacificadas pelas divindades que cercam a aura do beatificado. A imagem de um quadro no fundo da memória em ressonância com o iluminismo recebido primeiro da fé, segundo pela busca constante pela esfera reluzente. Ives abriu olhos e no horizonte aos seus pés a chama desvaneceu-se e tornou-se espumas oceânicas. Ardia em febre, porém as mãos que seguravam o seu braço tremulo, era um verdadeiro bálsamo. Teve a impressão de estar reencarnando numa espessa camada de peles geladas, mas que com o tato religado ao calor da vida que pulsava no coração de Maria, sentia que a dor, que nem sentira, não iria sentir mais. Um homem de roupas brancas e de olhar dulcificado recebeu Ives de lágrimas nos olhos. Já houve um tempo em que a medicina era executada pelos anjos. “foi um milagre rapaz, por pouco a bala não atinge o ponto central do universo: o coração”! Já acostumado ao sofrimento Ives não reagiu de imediato, aos poucos as ultimas cenas foram chegando. Lembrou-se do estalido repentino e a dormência nas pernas.
-Alguém atirou em mim?
A pobre Maria acudiu com comoção.
-Não fale agora. Chamei um médico para você e ele pediu silêncio e repouso absolutos a você.
-Não tenho como pagar. Todo dinheiro que dispunha...

Ficou melindrado ao lembrar que gastara todo o seu dinheiro para empreitada do baile. Mas ao tentar levantar-se da cama que fora colocada na sala de Maria para cuidados especiais, fora acintosamente repreendidos por Maria. Assim com a fragrância da doçura nas formas à sua frente, desmaiou novamente.  Despertou com uma voz grave e cheia de raiva, sim, não podia ser ninguém menos que o irmão Domingo que viera acudi-lo. Mas que acudida mais vil. Mal Ives abriu os olhos e já o repreendia por ser o culpado do ocorrido. “Não”. Anuiu Maria. “Ele estava de costas, não teve tempo nem de saber de onde saiu o tiro”. O irmão, antes de sair deixou claro que não pagaria um vintém pelo irmão ao médico, por esse não passar de um pobre vagabundo. O pai que assistia palestra sentiu-se oprimido por Ives, que mesmo acamado ouvira horrores do próprio irmão!

Um comentário:

  1. A sua história continua muito bem contada e a fazer-nos desejar saber como vai acabar...
    Beijo.

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