Nona parte Galo

O pai que assistia a palestra sentiu-se oprimido por Ives, que mesmo acamado ouvira horrores do próprio irmão, não pode se calar. E num sussurro ao pé do ouvido falou enquanto Maria saia da sala:

-Menino, o que você fez não tem nada de mais, mas levar um tiro pelas costas  é uma verdadeira afronta ao meu sangue. Não vá à policia, as coisas da rua se revolvem na rua!

Ives não sabia o que falar nem pensar. Sua razão ainda ajuntava os cacos escondidos na memória. O pensamento levemente caminhava no sentido unir as peças. Contudo deveria ao menos agradecer a acolhida!

-Agradeço Senhor, mas por que estou aqui?

-Não podia deixa-lo. Quando alguém me ajuda traça um risco no meu coração. Talvez você não tenha percebido que apesar da nossa modesta situação temos brio, e não vou deixar passar impune essa história. Só não quero que revele a minha filha os planos que tenho internamente. Ela é extremamente pacata. Sou de paz, para tanto a justiça deve imperar.

Ives assentiu. Não podia discordar, dentro da casa do Senhor.

Maria voltava com água na moringa. E com um sorriso doce insistiu para que o guerreiro tomasse ao menos um gole da água, antes de sair! Bebeu e recobrou os movimentos. Podia andar e tocar a terra. Ao levantar-se pode ver de frente o olhar azul de Maria, que a pouco, durante os devaneios pôde intuir. Não podia explicar, mas seus instintos declamavam uma linda poesia. Sentia muita dor, mas estava amortecida pela beleza do momento.

-Vai levar alguns dias para cicatrizar. Não deixe de usar esses remédios.

Em sua mão limpa e aveludada estava alguns comprimidos. Olhando além dos olhos, Ives dizia que agradecia imensamente, e que em breve retribuiria.

-Voltarei. Com a sua benção Senhor.

O pai de Maria consentiu com outro olhar agradecido.

O silêncio é a arte dos homens, das mulheres, dos laivos da verdade apurada.

Maria gostou da ideia.

-Volte. Posso fazer os curativos se você não tiver mais ninguém!

-Só tenho a mim e um raio de luz azul!

Maria, vermelha, entrou correndo para o quarto.

Ives chegou a casa e nenhuns dos seus irmãos vieram vê-lo. “Será que nem mesmo o resvalo da morte acorda os sentimentos humanos”? Deitou-se no pequeno curral, cobriu-se de feno e pensou em dormir, mais pela paixão que adentrava seu coração, que o desastre em si. “Ela é doce, boa, autentica. Ives dormiu. Estava tão cansada que meia hora depois não pôde ouvir os gritos do irmão. IIIIIIIVVVEEEESSS, o fazendeiro esta aqui para vê-lo! Levantou-se vagarosamente e num caminhar trêmulo divisou o fazendeiro e o irmão!

-Meu menino, que triste acontecimento, ninguém esperava. Venho pedir desculpas e oferecer uma quantia em dinheiro que já está de posse do seu querido irmão.

Ives sabia que jamais veria aquele dinheiro.

-Gostaria também de pedir humildemente para não prestar queixa contra o feitor. Ele é um bandido, mas sujaria o nome de sua família, entende?

No olhar de Ives surgiu a voz da experiência na boca do pai de Maria.

-Não prestarei queixa. Nem quero saber onde possa estar o covarde!

-sim, covarde meu filho. Olha, quando estiver convalescido o recolocarei. Talvez vá trabalhar no escritório ao meu lado!

Artimanhas para o silêncio e é no silêncio da curva que a espada corta!