segunda-feira, 14 de julho de 2014

Décima parte: Galo!

O amor cresce na proporção áurea, e mesmo a distância, os dois que se encontraram num dos ângulos da dimensão dourada, sempre estarão conjecturando a razão de estarem separados. Não estão, todavia. Dentro da bolha terrena as linhas que se cruzam são ínfimas diante do universo, talvez limitadas. A Srta dos dedos abençoados bordava ao léu uma letra na toalha que serviria como pano de fundo do cenário da história do nosso Senhor: grotesco, apesar de cavalheiro. Enquanto o dia dava o adeus à lua forte, o menino lado a lado do pai de Maria, confabulava histórias mirabolantes de seus ancestrais. Não eram amigos ainda, mas o destino pousou suas asas diante da honra, e seria com sangue que seria lavado a alma do guerreiro. Maria furou os dedos, e num vaticínio vermelho viu no horizonte o sol que nascia! Não pregara o olho. A paixão não requer descanso, mas o que incomodava Maria era o fato de conhecer muito bem o pai que tinha. Sabia das histórias que sua mãe aludia às vezes. “Foi um passado violento, de estrofes que seriam melhores serem tiradas da canção”. O velho pegou nos braços e entraram pelos cafezais. Ao pé do ouvido o senhor apenas disse:
-Aceita o trabalho. Ficaremos mais perto do coelho.
Ao regressarem à casa naquela manhã gelada, Maria os observava com um olhar absorto. O pai mandou o guerreiro fazer-lhe uma visita no domingo pela manhã, antes das corujas irem dormir. A pesar de a mãe e Maria estarem felizes por prepararem o almoço no dia da visita do homem Ives, as duas trocavam sussurros tenebrosos, com laivos de horríveis suspeitas. Ao ser colocado a mesa o velho ofereceu um copo de vinho tinto ao convidado. Brindaram e todos sorriram um sorriso amarelo. Após o almoço o velho retirou-se e assentiu em doar uma hora para Ives, conquanto que ficassem à sua vista. De frente Maria era a formosura viva. A alegria resplandecente recobria os pensamentos intempestivos que invadia o coração dos dois.
-Não de ouvidos ao meu pai, seja lá o que falaram!
Ives assentiu com um olhar fulgurante. A menina possuía em si a inteligência dos simples, que sem abrirem um único livro são capazes de desvendar muito mais os mistérios sibilantes nas entonações das palavras, que muitos doutos enfurnados na teoria. A mente livre produz a largos passos as ondas flutuantes.
-Fique tranquila Maria. Agora só quero continuar a visitando. Gostaria muito de poder vê-la duas vezes por semana. E na “voz” do gavião de peito estufado, pediu Maria em namoro. Desta vez, com a força acima das camadas da pele ela assentiu.
-Sim.
Não poderia beija-la. O pai estava por perto, de olhos acesos. Agora Ives sentia medo do velho. Diante dos fatos as ovelhas aparecem, e são os leões que as devoram. Mas não terá no mundo uma força ainda maior?, capaz de suplantar todas as vilanias terrenas? Será que o mundo esta fadado a se transformar no que os grandes pensadores esperam? Uma bola de cinzas?



5 comentários:

  1. Olá Ives. Tenho estado bastante ausente. Aqui é Verão e, claro, tempo de férias. Estive uma semana com os meus netinhos e para a próxima ausentar-me-ei de novo. Mas, sempre que possa visitarei os meus amigos. Li tudo novamente e estou curiosa para saber a sorte do Ives. Espero que consiga realizar o seu sonho, mas....dos grandes, infelizmente, temos de desconfiar um pouco, embora, como em tudo, haja excepções. parabéns pela bela escrita e cá estarei então, logo que possa, para acompanhar este teu conto. Tudo de bom, amigo. Um beijinho
    Emília

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  2. E agora Ives?...o amor é um fato...o pai está colaborando, mas...o que o destino reserva?
    um abraço

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  3. Ives, não tenho tido tempo para ler com cuidado este "seriado". Fá-lo-ei logo que tenha esse tempo de concentração. Entretanto, tudo de bom.
    Bjo :)

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  4. Não acredito que Ives se intimide com o velho por perto...abração,chica

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  5. Estou muito curiosa para ver o desfecho...o pai está ajudando...:-)
    Gostei muito do pormenor "antes das corujas irem dormir"...:-)
    xx

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