quarta-feira, 2 de abril de 2014

Mama!

Uma brisa celeste acaba de tocar a minha face! Noites assim são abraços afetivos! Ganha-se a arte de trabalhar as minúcias, lapidar as belezas, quando realizamos as divindades instintivas, que ditam a verdadeira razão do presente! E quando deixamos o tempo passar sem realizar o espírito, outra luz se abre no futuro ditando as lições presentes no coração! Não se presta atenção às menores ações de pessoas distantes, como se fossem palavras ecoadas num espaço ínfimo , e por não termos a devida amplitude, doamos apenas a tão odiada indiferença! E quantas vezes agi de forma cruel aos chamados anônimos, deixando de doar até mesmo uma simples lasca de pão, como se fossem essas pequeninas formigas no nosso campo de ação! Mas a brisa celeste tocou suavemente a minha face vítrea. Caminhava com a minha sonhada mãe pelos corredores do tempo. As flores ao redor gravavam as mensagens que se eternizariam em mim. A chuva esfumaçada trazia junto o friozinho anunciante das sopas quentes, das festas dos legumes nos corredores do supermercado! “Já são seis horas”, corria a mama poderosa, que fazia em pleno frio a casa aquecida de carinhos tão singelos! Era uma sopa simples, com pouquíssimos ingredientes, mas era o que podíamos nesses tempos idos! Cenouras douradas, batatas prateadas, macarrão em forma de letrinhas, historinhas encantadas quando faltava a energia elétrica, sono poderoso, e sonho de frases costuradas pelas letras e pela máquina de cozer que a mama se orgulhava em dizer que o preceptor da casa havia comprado especialmente no dia do seu aniversário: presente pujante, que no tempo traz os mesmos três pontinhas a prender um botão na camisa de domingo, ouço como se fossem notas de Chopin, Noturno melancólico, porém divinamente elaborado pelos anjos cavalheiros do tempo! As festas eram fartas e nem um dos meus tios saiam sem estarem devidamente bem recebidos. O chão era de terra mas a churrasqueira ofertava o que havia de melhor no mercado, as paredes sem reboco não nos deixavam com vergonha porque na geladeira tínhamos cerveja gelada a oferecer! Os mais animados eram vestidos de mulheres, brincávamos de atirar água um ao outro, subíamos nas árvores para comer manga! O que temo hoje, gente? Uma educação altaneira, mas sem diversão? Vejo um ser humano pálido chegando na Terra, não se pode mais brincar, não se pode vesti-los de mulher, atirar-lhes água! E minha mãe saia com a meia de seda(pinga com leite condensado) e não ia para os fundos de casa sem me dar uma pitadinha na boca, que pitadinha mama, que sabor florido, que corredores jardinados! Até hoje carrego a simples filosofia comigo. Rir das coisas, comer de colher, respeitar o palavreado errado das pessoas, deixar a luz banhar a mesa de partículas floridas pelo tempo que voltam sempre com os mesmos brilhos suntuosos nas noites que ensaiam os tempos de frio! Fiz, e faço o que posso, mama, dou pão, sou todo presente do agora, sou as lições tiradas das belezas dos sorrisos à mesa! Ives vietro

24 comentários:

  1. Saudade de um tempo que nos construiu e nos viu crescer carregando essas cores no coração.
    Tudo nesta vida muda e os jardins vão lentamente alterando sem contudo perder o sabor e os cheiros.
    O homem é composto de mudança e sempre voltará às suas origens.

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  2. Que lindo ,Ives! Quantas recordações aprendizados e constatações tiveste! Adorei ler! abração,chica

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  3. Que lindo, sensorial e emocionante!
    Somos e que bom quando percebemos e curtimos as lições tiradas das belezas dos sorrisos à mesa
    :)

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  4. Sempre voltamos aos tempos iniciais. E à mesa não se saboreia apenas a comida e seus aromas, mas também os afectos que nos acompanharão para sempre.
    Belo texto, Ives.

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  5. Uma vida assim... Uma educação assim... Na simplicidade. Na autenticidade. Apenas no SER e não no TER... Isso é o que nos alicerça para uma vida íntegra!
    Abraços.

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  6. Olá Ives,
    Tão bom recordar essas simplicidades e levezas, de um tempo que não volta nunca mais...
    E o melhor de tudo é o aprendizado que trazemos dessa época.
    Desejo um ótimo dia, bjs!

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  7. Singeleza no teu viver com a doçura e sabedoria da tua mama. Encantei-me com o texto.
    Beijo!

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  8. Olá Ives. Saudades dos tempos de outrora. Linda forma de abordar. Grande abraço.

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  9. Olá, Ives, Quando leio sobre as lembranças das outras pessoas, mais eu me convenço de que somos tlodos, no fundo, tão parecidos...
    Lindo texto!

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  10. Um texto muito belo e comovente. Onde

    colhemos a sabedoria,um caminho suave

    de sentir as pessoas,o mundo e o

    nosso coração a sorrir...

    Abraço de paz!

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  11. Parabéns pelo teu blog!
    Vem conhecer o meu:

    feitaparailetrados.blogspot.com

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  12. Mama mia , Ives!!! Recordar coisa boas, nos revigoram!!
    Parabéns pelo texto
    Abraços

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  13. Um texto encantador, Ives.
    Há uma ternura que fica a pairar no ar, quando recordamos o inicio do aprendizado...

    Beijo, bom fim de semana.

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  14. Ives, seu texto me fez voltar às lembranças de um tempo maravilhoso.Sua escrita além de sensível é forte,pois nos mostra o caminho que foi feito e o que ficou nele. Parabéns pela sua escrita.

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  15. Oi Ives ...quanta recordação boa heim...são momentos únicos e preciosos guardados no coração e na memória! Gostei muito de ler :)

    Grande Abraço e Um Feliz Mês de Abril *-*

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  16. Oi amigo, recordações de um tempo que não volta mais, mas foram tempos muito preciosos!
    Abras e bom final de semana!

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  17. Lembrar o que passou com tanto carinho é como vente e, tirar disso disso lições para a vida é ter sabedoria.
    Um abraço.

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  18. Belíssimo texto, Ives. Reli e me transportei nele com as suas evocações...
    Devo destacar o final, pois nele está subjacente formas tão diferentes de "heranças afetivas", nos dias de hoje.
    Bjo :)

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  19. Olá Ives!!
    Olha eu aqui!! vim conhecer seu lindo trabalho, parabéns! Sucesso sempre!!
    DEUS CONTINUE TE ABENÇOANDO!!

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  20. Voltei a tempos longínquos guardados na lembrança!
    Belas lembranças!
    Simplicidade, felicidade!
    Saudade, muita saudade!
    Obrigado!
    Tenha uma feliz semana!
    Beijos!

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  21. Que saudade bonita, Ives. Fiz um ligeiro retrato imaginário aqui e gostei demais dessa coisa alegre que havia no seu quintal, na sua vida cotidiana e boa.

    Um abraço, senhorito.

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  22. Ives meu amigo... O seu Blog é perfeito. Parabéns.
    Dilene.

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  23. Ives vim matar saudades de teus belos textos e troquei a saudades de tua casinha com a saudade dos tempos idos nos jantares na casa de meus pais, onde a sopa quente e saborosa sempre nos aquecia, adorei relembrar através de tuas lembranças,abraços Luconi

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