quinta-feira, 20 de março de 2014

Os traços ficam no ar!

Pense na fome que nunca assolou sua barriga, e ainda a falta de palavras consoladoras! E um rio margeava a fazenda de águas choronas! Um homem de família esfomeada habitava as áreas da Terra. Sim, era fragmentada numa porção usurpada! O homem que passa fome se humilha além das convenções, já dizia o meu pai, relator do caso que documento nestas folhas caídas, da árvore chorona! A seca chegou com seu manto de poeira sobre as estradas fumegantes, os moradores da fazenda roubada não tinham mais o que comer, e as palavras do “senhor” das terras magoavam ainda mais os pobres esfolados! O homem de pés no chão, aviltado em seu imo paterno, viu-se impelido a buscar o pão! Ousa-se com segurança, mas solitário, o homem é responsável pelos seus próprios passos, distantes! A fome ensina a voar, e uma águia é uma efígie a homens que precisam andar!


O homem foi até o senhor das terras, pediu o que comer a seus filhos! Dolente, quanta gente passa essa dor de pedir o que comer, a essa outra gente, que diz não poder oferecer: vira vício, pega, e não vão mais embora. E pelo vão da porta o “senhor” deu cinco tiros no pobre trabalhador! À moda dos imperadores que não permitem laivos de insurreição, não doam corda a essa gente de pés no chão!


Que dor. O pobre ainda deu alguns passos e abraçou a arvore chorona. Do espasmo ao ultimo suspiro, sucumbindo, despedindo-se da Terra dos irmãos. Deixou um rastro de sangue na arvore chorona!


Antes do tiro, o arcanjo segurou o pobre pelo pescoço e disse: não vai doer não!


Os moradores das terras sujas aprenderam! Deixaram a fome assolar mais um pouco os filhos que logo se acostumariam com a vida dura no campo! Mas algo extraordinário aconteceu, e todos, até das outras fazendas apareceram para ver, a mancha na arvore chorona que nunca desapareceu! Tiravam a casca, lavaram com água e sabão, não teve jeito não! “Corta” mandou o patrão! Noutro dia, que espanto, a mancha voltara em outra arvore da região! O senhor de terço na mão não obtivera perdão!


No limiar na vida, antes de partir, o arcanjo voltou para ver o senhor das terras sem o coração!


À sombra da morte o pobre adentrou pela porta da casa senhorial e disse ao patrão que o perdoava, e que os tiros não doeram não! “Por que me perdoa”?


Respondeu o pobre de pés no chão:


-O que doeu foi a indiferença, a tristeza de ver algo tão cruel entre os irmãos. Chorei com a árvore chorona que não me esquecia, chorei por saber que meus filhos estavam bem, apesar da fome; chorei ao saber pelo arcanjo que um dia te encontraria, e veria que no limiar da vida, o Senhor entenderia, com o coração, o significado da palavra perdão!


Ives vietro

22 comentários:

  1. Bom dia
    Um texto muito actual. Já não são os senhores que nos roubam e humilham. São os nossos governantes em quem votamos. Mentiram-nos e falsificaram todos os documentos. São estes que agora nos oprimem e exploram.
    As árvores chorosas desapareceram.
    Restam uns raios de perdão que iluminam as noites de fome e de injustiças.

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  2. Que triste pessoas ainda viverem assim.
    O mundo cada vez está mais desigual e quem tem não faz nada pelo próximo.

    tenha um ótimo fds =)

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  3. Quando a terra seca e os senhores do mundo não sentem a fome do seu semelhante, não haverá água que seja suficiente para o surgimento do leite e do mel, nem respeito pela dignidade humana.
    Mas talvez exista sempre essa capacidade de perdão, que eu em relação a muitas questões não consigo ter.
    Muito intenso e verdadeiro, Ives!
    xx

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  4. E o mundo esta cheio de pessoas que, por ter mais um pouco acham-se dono do mundo, da verdade e que podem tudo. Um texto reflexivo e triste também. Bju

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  5. Essa condição desumana tem dimensões universais.

    Pra mim um dos teus melhores textos.


    Abraços querido amigo!

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  6. Oi amigo Ives, essa é uma verdadeira lição de vida!
    Parabéns pelo dia do poeta amigo!
    Abraços

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  7. O homem consegue ser mtº. mau para o seu
    semelhante. Hoje Dia Mundial da Poesia
    venho deixar um beijo ao amigo e desejar que
    esteja bem.
    Irene Alves

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  8. A palavra perdão...poucos conseguem percebê-la e muito menos senti-la.
    Abraço

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  9. Parabéns Ives!! Lindo ,maravilhoso!
    Um texto muito bem escrito!
    Realmente ;Não são todos que sabem pedir perdão!
    O perdão vem das pessoas humildes,de bom coração!
    É verdade Ives você está sempre presente em meu blog.
    Está caminhando comigo desdo começo.
    Beijinhos.

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  10. Olá, tudo bem ?

    O pensamento é a morada da alma. Por isso, pensamos positivos. Não nos deixemos dispersar, pelas vias dos aborrecimentos.
    Tenha um fim de semana agradável.
    Um abraço.

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  11. Belíssimo e profundo este teu texto,Ives!!!

    Bravo pelo o teu talento literário e

    sensibilidade ímpar...

    Abraço de paz.

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  12. Ives, texto lindo, embora triste. A desigualdade não deixará de ser uma realidade enquanto não houver uma transformação individual, de dentro para fora, dos valores de cada ser humano. Um abraço!

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  13. Meu querido amigo

    Um texto infelizmente muito verdadeiro, infelizmente a desigualdade nunca deixará de existir.

    Um beijinho com carinho
    Sonhadora

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  14. Estamos perdendo a noção de se indignar diante das injustiças de cada dia.Quem diria que veríamos cenas como as que vimos _uma mulher ser arrastada por um veículo da polícia que é o meio que temos para nos defender e proteger? o que precisamos ver ainda?
    Um texto que permite muitas interpretações Ives,
    Bom .
    deixo um abraço

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  15. Essa indiferença tomando conta do mundo. Parece normal vermos cenas horríveis ao nosso lado. Mas NÃO podemos nos acostumar com isso! abração,linda semana,chica

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  16. Ives, que texto triste,mas que cala em nossa alma por sabermos ser real, pois a maldade está a cada dia mais intensa em todas as áreas. A esperança é de que um dia todo ser humano se humanize. Grande abraço!

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  17. Ives,

    para mim a indiferença é a tragedia da humanidade, torna algumas pessoas arrogantes e secas diante de outras.

    Bjs

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  18. Dizem que cada um tem seu destino.
    Tenha uma ótima semana.

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  19. Meu amigo, um fato que você diz que seu pai relatou, então imagino que aconteceu há tempos, mas acontece com certeza nos dias de hoje e infelizmente acontecerá no amanhã, porque a humanidade quase nada muda, pelo contrário parece que anda para trás, beijos Luconi

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  20. Este relato toca demais, só pelo facto de o ter escrito e de forma sublime, Ives. Não há nada de mais degradante do que o aviltamento de um ser humano, seja por que razão for...
    Meu amigo, não sei se poderá haver perdão para os atores de tais atos!
    Bjo

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