quinta-feira, 9 de junho de 2016

Amor

"Não brinque com os sentimentos dos outros". O eco veio entre o sonho e o despertar noturno. À penumbra, o relógio estridente marcava o compasso da madrugada. Faltavam algumas horas até as luzes do sol entram pelas frinchas da alma e aquece-la de novos rumos. Livre de qualquer compromisso o dia prometia repouso, mas o calabouço do amor é ainda mais fundo, e foi ele quem me arrastou diante da chaga que aparentemente estava fechada. Uma linda mulher de cabelos-caracóis adentrou-se no limiar da minha morada. Fechei a porta, tranquei-a, mas a imagem voltava e voltava. Lembram do filme "Somewhere in time"? quando o Richard no hotel passa as noite a olhar a foto da Elise? eu sei bem o que é aquilo. Certamente o poeta que escreveu o filme todo passara pelo paroxismo. Foi naquele dia, após o eco vindo das trevas, que conheci a mocinha de semblante translúcido. É preciso respeitar a película protetora feita de luz que esta antes do corpo que amamos; se vaza-lo com injurias e magoas ficará gravado como num filme imortal: e creiam, há frases imperdoáveis. Sabia, com o branco dos olhos que aquela me traria paz, tormento, pesadelo. Os arrepios fantasmagóricos, os olores que despertam a ansiedade, os versos formados no fundo das existências eram enleios deflagrados pelos anjos ao redor do nosso encontro. "O que querem de mim"? Seriam anjos do inferno? A força é descomunal, e sentimos que chega a ser covarde a diferença do braço forjado no sobrenatural. É o corpo atraído pelo magnetismo que entra no vosso campo gravitacional e gira eternamente; ora, se manifesta no corpo físico, ora é luz de um abismo. Diferente. Tão diferente. Não há preceito, os vincos do amor são infindáveis, olhai os rostos dos poetas. De uma beleza que só eu podia ver, invejassem com o frumento humano ou não, era ela a mais bela do mundo, do meu mundo, do mundo todo. Ficamos presos numa esfera celeste, aonde os movimentos eram iluminados pelo silencio. Sim, entram os valores em voga, mas o que segue no espírito é o que da rumo ao Ser. São as luzes ancestrais que acompanham na alma os destinos do bem. Esta dentro de nós a defesa contra a explosão imortal, e nunca passageira como creem. Vi que não era perigoso e deixei o corpo unir-se ao meu. Entrega-se plenamente, eis o medo de entregar tudo, mas não é permitido entrar no paraíso com suspeitas do amor inventado por Deus. É, ainda, Romeo e Julieta, A bela e a Fera, Tristão e Isolda...! A arte imitou a vida, foi o poeta que descreveu a força motriz humana. Força que movimenta o nosso ego em virtude de ações que são causas, e não efeitos desse amor todo. Vem sempre acompanhado por vulcões loucos a serem expelidos, para que possam escrever nos céus a essência desta felicidade, ou desta angustia quando a chama se afasta, seja um minuto, imaginem a madrugada toda? abraços

7 comentários:

  1. Que lindo, amei ler aqui, me transportei ao mundo mágico do amor imortal, "Em Algum Lugar do Passado"!
    Em seu belo dissertar me fez sonhar!
    Sempre bom estar assim, aberto ao amor, ao sonho, ao que é de alma e da paixão!
    Abraços amigo poeta Ives!

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  2. Lindo!!!
    Traz lembranças adormecidas.
    Abraço forte querido Ives

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  3. Em dias atuais o que mais vejo são pessoas se divertindo com sentimentos alheios por prazer ou até por falta de amor mesmo.
    Se vc se ama, e ama o próximo vc nunca vai desejar o pior para ele.E se vc é uma pessoa ruim para os outros vc tb é assim consigo.

    bjokas =)

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  4. realmente o que mais existe são pessoas que finge sentimentos, brincam. O amor ficou banalizado e a palavras, (eu te amo), mais ainda.

    Belo poema! Beijos.

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  5. Ives, sentimentos não se brincam, depois vem a tristeza e a morte.
    Feliz dia dos eternos namorados
    Lua Singular

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  6. Olá Ives,

    Por ser o sentimento mais verdadeiro, é preciso tomar certos cuidados em se tratando de amor.
    Belíssimo texto! Palmas...

    Uma semana cheia de realizações pra ti.

    Abraços!

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  7. Que texto, Ives! Quando se fala de amor assim é porque se viveu ou se vive um grande amor...
    Beijos.

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