sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Conto

Havia na cidade um homem completamente perdido entre os amores que lhe invadiram a vida. Bonito e cheio de encantos desfrutava há tempos quem entrasse em seu campo visual com os olhos sedentos por pele. E quanto mais experiência ganhava, mais conseguia obter aquilo em que acreditava ser o ápice da existência. Sexo? Com o tempo tentou focar os pensamentos em algo realmente doce, que lhe fizesse perdurar como chamas de um amor perene, porém, logo que outra beldade trocava esses olhares que os homens sagazes entendem, não deixava de cair, de sair da estrada que havia escolhido. Lá pelos cinquenta anos olhou-se nu no espelho, e viu-se com as marcas da vida desregrada, mas não desanimou das conquistas, pois o que faltava no corpo a lábia esperta o compensava. Quando o repentino aflorou-se nos seus olhos, estava diante de uma menina vinte anos mais jovem do que ele. Ela, de tranças peroladas que luziam às luzes da lua, caiu à deriva neste barco perigoso. No passado do homem o sangue que ainda não manchara a sua consciência, começou a pulsar levemente nas raízes mais profundas. Ele, como sempre, tinha várias mulheres no canal das suas noites, mas a jovem era realmente encantadora. Ao convida-la a alcova repudiou-o com os encantos que ainda se estabeleciam nos valores herdados da família. Ela queria casar antes, queria constituir esta família que era base para o seu seguro não. Além da apetência que já andava decaída o homem viu naquela jovem o romantismo que tanto esperara. As flores beijadas por ela tornavam-se cristais líquidos entorno dos olhos que não deixavam cair as lágrimas. Ela tinha um amor genuinamente fincado nas rochas do coração, mas não o entregaria, se o homem não cumprisse exatamente como mandava o ritual "sagrado". Casar. Mesmo em meio a este ensaio de paixão o homem não deixou de visitar as outras, mas quando via-se de frente da jovem, seu coração mergulhava numa dor latente que nunca sentira antes. Ao passar a frequentar a mesma igreja que a jovem frequentava, perscrutou o coração em busca da resposta àquelas dores. Dizia à menina que casaria, que faria tudo como mandava o "figurino"; queria de qualquer forma experimentar aquele frescor a qual vagava cada vez mais longe. Sabia que o sexo é poderoso, e o instinto da sobrevivência não resiste muito tempo às tentações. Foi num sábado, quando estavam sozinho, que ela cedeu. Cedeu em partes pois o homem simplesmente não pode completar a posse da jovem. Uma fadiga grandiosa invadira o seu corpo bem no momento em que tiraria a virgindade da pobre menina. Usou da malícia ao dizer que não deveriam mesmo, e que poderiam adiar o momento de cumprir o que estavam fazendo após o casamento. Na mesma noite correu para os braços das outras e mesmo pejo impediu que desfrutasse os desejos da carne. Então, o homem sentiu-se isolado do mundo. Aquela que lhe amava tanto não servia ao diálogo que necessitava ter. E foi à luz do luar que encontro definitivamente a consciência. Deixou o mundo profano a desfrutar o paraíso com a jovem. Casou-se e escolheu como caminho não o casamento, mas as virtudes que se encerravam nos preceitos da menina mais ajuizada do que ele. Porém, o tempo trouxe descobertas, e a menina soube por terceiros que havia sido traída no tempos do namoro. Rompeu com o homem que viu-se novamente diante da consciência. Apanhou. O que faria dali em diante? Não poderia apagar o passado, mas poderia buscar o tempo perdido, e foi numa forma de arte que encontrou a válvula de escape ao seus tormentos que renasciam todas as noites. O sono é o palco do passado. Após alguns anos a jovem, que não se relacionara com ninguém descobriu dos afazeres do homem, e encantou-se como o fato do seu amor estar num caminho acertado! Ao voltarem construíram, enfim, o ideal da jovem, que ele amou de coração! ives vietro

8 comentários:

  1. Não se podendo mudar o passado... pode-se sempre ir a tempo de corrigir o presente, para fazer acontecer o futuro...
    Belo texto, Ives! E com um happy end...
    Gostei! Abraço
    Bom fim de semana!
    Ana

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  2. Um romance ainda que desastroso em seu princípio, teve um final feliz com seus protagonistas.
    Abraço.

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  3. Muito bonito sua história e cheio de indo e vindas e recomeços. Teve um final feliz... Eu amei!!!♥

    Um lindo dia para ti Ivis. beijos.

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  4. oi Ives
    Que bom estar aqui lendo um conto seu.
    Estás a percorrer entre a prosa e o poema .Isso é próprio dos poetas,parabéns!
    Depois que desativei o facebook senti como se tivesse não a léguas de distância mas fora de órbita kkkk.
    Aos poucos , isso passa. Precisamos disciplina para fazer o que convém não é?
    Já retornando , volto sempre que der.
    Beijos

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  5. Ives, dou um valor enorme para finais felizes, talvez porque eu mesma persiga o meu... ler contos como o seu me fazem bem, me fazem continuar acreditando, mesmo que hajam percalços. Abraços!

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  6. Boa narrativa, Ives. Prende a atenção.

    "As flores beijadas por ela tornavam-se cristais líquidos entorno dos olhos que não deixavam cair as lágrimas." \o/

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  7. Uma história muito bem contada, Ives. E com um final feliz! Gostei.
    Beijo.

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  8. Que lindo conto, prendeu minha atenção, bem escrito e o final feliz!
    Amei ler!
    Abraços apertados querido amigo poeta/escritor!

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